quarta-feira, 3 de junho de 2015

''Que p*rra é essa de Comível?''

Bom, nessa semana teremos o Mofocast sobre o filme ''Bem-Vindo à Casa de Bonecas'' com Heather Matarazzo como protagonista. O tema principal do filme é o bullying e a atriz contou em seu blog, que foi repostado pelo site Afterellen, um relato de como a padronização é cruel e atinge a todos, independente da fama. Segue abaixo o artigo. 



Tradução: Máq



"Sério mesmo? Que merda é essa de comível? Não sei se posso responder essa pergunta pra você, mas posso compartilhar minha experiência própria.


Quando eu tinha 19 anos, ou próximo disso, eu estava num Starbucks em West Hollywood com um diretor, falando sobre o filme que estávamos prestes a fazer. Tinha levado um bom tempo, mas nós finalmente conseguimos. Esperando pelos nossos cafés, percebi que ele estava meio inquieto. Perguntei a ele se estava tudo OK. Ele disse que sim. Eu não acreditei nele, então perguntei de novo. Ele olhou pra mim e disse, “Heather, sinto muito, mas tivemos que dar o papel para outra pessoa. Os produtores não querem você.”


Não entendi nada. Eu estava ligada a esse projeto por dois anos, e, agora, faltando duas semanas para começarem as filmagens, eles estão me liberando. Perguntei a ele o motivo disso. Ele olhou pra mim e disse, “Eles dizem que você não é comível.”


Bem, é fod*. Mesmo enquanto escrevo isso, posso sentir a dor, vergonha, e humilhação que surgiram em mim naquele momento. Esse era um papel que eu estava excitada em representar. Ela era ousada, graciosa, sarcástica, sexy, e mais importante, ela possuía uma grande vulnerabilidade escondida. Ela tinha camadas. Ela era complexa.


Não me lembro bem do que aconteceu momentos depois, exceto por algumas palavras ditas pelo diretor como “sinto muito”, “investidores”, “te adoro.” Mais tarde, naquele dia, ele disse, “Eu ainda quero que você faça o filme. Temos outro papel pra você, que achamos que seria ótimo pra você. Agora ele é pequeno, mas vou torná-lo grande o bastante pra se tornar digno do seu tempo.”


O que uma garota faz? Você diz “Sim, OK, porque o script é espetacular, e tem gente grande ligada ao projeto,” ou você diz, “Vá se foder. Porra, não! Porque eu tenho orgulho, e obrigada por desperdiçar os últimos dois anos da minha vida”?


Eu disse sim. Eu disse sim. Foi difícil. Foi complicado, mas eu aceitei porque eu amei o script, e as pessoas que estavam no projeto. O que eu não gostei foi da política, e do que seria o meu primeiro contato com o quão nojentos essas porr*s de financistas podem ser. E não, eles não são produtores de verdade. Scott Rudin, Christine Vachon, Jane Rosenthal -- esses são produtores. Tem uma diferença.


Você não faz ideia de quais momentos vão ajudar a te moldar no que você vai se tornar. Eu não sabia na época o quanto aquelas palavras poderiam ser prejudiciais. Três palavras: “Você não é comível.”


Outras palavras ligadas a “Você não é comível” são feia, nojenta, perdedora, fracassada, NOJENTA. Essa era a maior das palavras. Me fez refletir como se as pessoas pensassem por que Eu deveria ocupar algum espaço. “Quem diabos é você pra ocupar espaço nesse mundo sua não-comível de merda?”


Levei isso comigo até meus 20 e tantos anos. E junto disso, eu tinha uma conformação contínua de que eu realmente não era comível baseado no fato de que o telefone não tocava com muita frequência, e meus agentes da época só me mandavam papeis de “mulheres comuns” ou “mulheres muito grandes.” E enquanto escrevo isso, me vem o pensamento de que quero comer pizza.


A Oprah fala sobre como tudo o que queremos é sermos vistos. Bem, eu não acho que meus agentes estavam me enxergando, não acho que diretores de elenco estavam me vendo, e comecei a me questionar honestamente, será que EU NÃO estou me enxergando? Sou feia? Sou assim tão não-comível, nojenta, uma criatura asquerosa que só deveria ser escalada pra fazer a garota gorda, ou a estranha? Mas foi aí que percebi uma coisa: Mas é claro que eles estavam me enxergando, porque era assim que eu me via. Era assim que eu me via desde a época que eu tinha meus 11 anos, na época em que fiz Dollhouse. Até ali, as definições de beleza ainda não estavam registradas na minha cabeça. Eu só sabia que ela existia quando a via, geralmente quando gostava de alguém. Depois que Dollhouse saiu, Eu li os reviews. Me fizeram muitas perguntas, do tipo, “Como é fazer o patinho feio?”, “Como é interpretar alguém tão pouco atraente?” e na minha cabecinha de 13 anos de idade, tudo o que eu ouvia era, “Como é ser tão feia?” Então isso foi tão mais devastador quando  isso foi confirmado novamente, por alguém que eu respeitava, que eu achava que me enxergava, enxergava minha beleza, o quanto eu era sexy, minha força, minha capacidade.


Sinceramente, eu acho que todas as mulheres passam por isso, especialmente as atrizes. Será que seremos vistas?


Pra mim, eu tinha que tirar o cobertor do meu espelho e encarar. Encarar meu rosto maravilhoso, meus lancinantes olhos azuis, meus lábios carnudos, meu queixo pequenino, meu nariz levemente torto, todos os meus dentes e sorriso. Tive que realmente olhar pra mim mesma e ver a minha beleza, e assim que aceitei a realidade chocante em que eu me encontrava, sendo não só comível, mas também bonita pra caralh*, tudo começou a mudar. Os papéis para os quais começaram a me chamar eram de mulheres que eram “bonitas, confiantes, seguras,” elas eram complexas, tinham profundidade.


Então eu sou grata por ter passado por essa experiência. Sou grata a todas as pessoas, seja elas produtores, diretores de elenco, agentes, investidores que disseram, “Não, ela não é comível. Ela tem talento, adoramos ela, mas ela não é comível,” Porque sim, eu sou. Eu sou comível.

E não, você não pode me comer. Não estou disponível."


Esse texto foi originalmente postado pela Heather em seu blog.

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